Na mesma gaveta embolo mágoas e raiva, às vezes jogo uma tristeza qualquer e fecho. As felicidades eu dobro com cuidado no fundo do armário, onde na pressa do dia a dia nem lembro que estavam lá, dobradas.
A excitação, da mais pura, eu penduro em cabides ao lado, mas morro de medo de tirá-las e estarem, na verdade, amassadas. Mesmo em cabides. O prazer eu temo, me encontro amedrontada, é brilhante então eu quero pegar, mas parece vulgar demais, então me estresso com a simples palavra “prazer”.
Jogo no cesto, mesmo limpo, sabendo que vai voltar para que eu guarde. Aí só Deus sabe o que farei da próxima vez. Quando do caos das gavetas vaza um pequeno desamparo, desabo em choro. E abro mais gavetas, e agarro o quanto for possível, até sujar e ir pro cesto. E surge mais uma peça de frustração, para eu embolar um dia qualquer.
